Turbulência, apagão e pizza; veja "saga" do Brasil em Resistencia
04 de outubro de 2012 • 09h51 • atualizado às 12h55
Apagão causou cancelamento de duelo de volta do Superclássico das Américas
Foto: EFE
DIEGO GARCIA
Direto de Resistencia
"Kirchnerismo" político, "Jabaquara argentino" da quarta divisão, turbulência e desvio de rota em "voo do terror", hotel dividido com o rival com segurança reforçada, apagões, estranho incêndio nos geradores de luz e até pizza nos vestiários. Foi assim, com uma sucessão de fatos improváveis, que a Seleção Brasileira escreveu sua passagem pela cidade argentina de Resistencia.
Presente no pequeno município para a disputa do duelo de volta do Superclássico das Américas, o Brasil de Mano Menezes sequer viu a bola rolar diante de seu arquirrival, a Argentina, em confronto que jamais existiu e que ficará marcado para sempre por uma série de acontecimentos bizarros. Presente ao lado da Seleção em todos os momentos da viagem, o Terra enumerou todos os fatos que levaram ao acontecimento desta quarta-feira.
Vencedor do embate de ida por 2 a 1, realizado há duas semanas em Goiânia, no Estádio Serra Dourada, o time verde e amarelo deixou Resistência sem saber até se ganhou ou não a taça do Superclássico das Américas, já que o regulamento não previa qualquer anulação ou cancelamento de alguma das partidas. Confira a seguir toda a saga da Seleção em solo argentino, desde a escolha do local até o voo particular de Neymar.
Política e "kirchnerismo" levam jogo a estádio de quarta divisão
A opção de Resistencia como sede do confronto desta quarta-feira soou inicialmente estranha. O Club Atlético Sarmiento - modesto time da quarta divisão argentina que é uma espécie de "Jabaquara argentino", graças à semelhança em seu uniforme com o da agremiação santista - cederia sua "cancha" - o Estádio Centenário, com pequena capacidade de apenas 25 mil pessoas - para a realização do maior clássico futebolístico da América do Sul.
A escolha do lugar, contudo, foi mais política do que esportiva. O mandatário máximo do Sarmiento, Jorge Capitanich, é também governador da província de Chaco e adepto do "kirchnerismo", sendo amigo íntimo da presidente da Argentina, Cristina Kirchner. A partir daí, o acanhado Estádio Centenário mostraria na noite de quarta-feira que não tinha as mínimas condições de receber um evento desse porte.
"Voo do terror" muda rota e causa pânico
A aventura da Seleção Brasileira em Resistencia mostrou que não seria das melhores já na ida. O voo fretado da equipe deixou Guarulhos por volta das 16h45 de terça-feira com destino à cidade argentina. Dentro da aeronave, apenas o elenco convocado por Mano Menezes, funcionários da CBF e membros da imprensa nacional.
Empolgado, o piloto aproveitou até para tietar os atletas com pedidos de autógrafos: "trouxe algumas camisas, tenho três filhos em casa", anunciou nas caixas de som da aeronave. O bom-humor da viagem, que durou quase duas horas, se transformou em apreensão quando uma tempestade na chegada à Argentina obrigou o comandante a desviar de rota.
Uma mudança de 300km na trajetória inicial causou medo nos passageiros à bordo. Forçado a inverter a rota até o Paraguai, o piloto arrancou suspiros até das aeromoças, que disseram jamais terem visto algo semelhante em mais de uma década de profissão. O desvio de 35 minutos da trajetória original gerou turbulência de grau médio e só foi esquecido após o aguardado pouso final. Aplausos e alívio de Neymar e companhia.
Hotel compartilhado com rival e segurança reforçada
A Seleção Brasileira de Mano Menezes desembarcou em Resistencia por volta das 19h35 locais. O elenco rumou diretamente ao Hotel Amerian Casino, onde ficaria hospedado por uma única noite, já que o voo de volta estava marcado para a 1h da madrugada de quinta-feira, logo após a partida. Ao chegar à hospedagem, contudo, uma surpresa.
A polícia de Resistencia exagerou no esquema de segurança montado para proteger o hotel em que a Seleção Brasileira dormiria. Não apenas devido à presença do time de Mano, mas também porque o próprio time argentino estava hospedado no local. Em uma iniciativa curiosa e rara, a organização optou por colocar os arquirrivais no Amerian, em fato nada costumeiro para um Brasil x Argentina.
A preocupação excessiva dos policiais em frente ao hotel chamaram também a atenção da população, que se mostrou incomodada. Foram instaladas grades de ferro ao redor de toda a dianteira do Amerian, em ambiente que mais parecia uma prisão do que a entrada de uma habitação que hospedava elencos milionários.
Seleção Brasileira chega, vê apagão e jogo cancelado
Eram 20h45 de quarta-feira quando o ônibus da Seleção Brasileira chegou ao Estádio Centenário. A partir daí, uma sucessão de fatos bizarros marcaria o Superclássico que entraria de forma negativa para a história de Brasil e Argentina. Logo após a descida de todos os atletas do time verde e amarelo, incluindo o atacante Neymar, o último a descer do veículo, um apagão assolou o local.
As luzes começaram a reacender após quatro minutos, mas nunca mais retomariam a mesma força. Os times entraram em campo no horário marcado ainda sob fraca iluminação, que seguiu reduzida mesmo após a execução do hinos nacionais brasileiro e argentino, com direito a sotaque carregado do cantor local Maximo Russo. Assim, uma reunião entre as autoridades de ambas as partes ocorreu até que fosse decidido pelo cancelamento da partida, após uma hora e dez minutos de imbróglio.
Causas de apagão vão desde colisão de ônibus até incêndio
Ainda sem a posição oficial da organização, duas versões ganharam força nos bastidores do Estádio Centenário após a confusão que sucedeu o cancelamento da partida. A primeira é de que alguma manobra feita durante a chegada do ônibus da Seleção encostou em um gerador ou em alguma parte crucial para o funcionamento dos refletores, causando o apagão e consequentemente a falha no sistema de luz.
A segunda é que um curto-circuito nos refletores do estádio, motivado principalmente pelo fato dos refletores terem sido acesos de forma precoce, foi o responsável por todos os problemas que ocasionaram a anulação do Superclássico. Imagens mostram bombeiros - durante a execução dos hinos - abafando um incêndio ocorrido em um dos geradores de luz, com causa ainda desconhecida.
Neymar vai embora em voo particular após tudo acabar em pizza
Já nos vestiários, após decidirem de maneira unânime pelo cancelamento da partida, os jogadores da Seleção Brasileira resolveram antecipar o jantar. Com diversas pizzas, previamente encomendadas para serem degustadas ao fim do jogo, os atletas puderam comer antes de seguirem ao aeroporto para tomarem voo fretado marcado inicialmente para a 1h.
O atacante Neymar, contudo, conseguiu pegar um jatinho particular pouco antes dos demais. O diretor técnico de Seleções da CBF, Andrés Sanchez, ainda avisou nos vestiários do Centenário que o Brasil era, a princípio, o vencedor do Superclássico das Américas pela falta de datas para remarcação do duelo, mas que uma nova reunião deve ocorrer.